Descansa no meu colo tua cabeça de mulher, deixa que eu seja tua mãe, ainda que por um instante.
Vivamos o parto às avessas:
Eu, que sou tua filha, por ora quero ser tua mãe só para ter o prazer de te ver menina, tão cheia de sonhos; só pra puxar os teus cabelos e nele colocar laços coloridos bordados de alegrias! Cores de tempos antigos, distantes, de quando nem imaginavas que eu seria a tua filha!
Vem aqui, fica quietinha, descanse, e permita que eu cuide de tuas coisas, que eu faça um pouco do tanto que você faz por todo mundo!
Farei tudo, só para descobrir a alegria de reverter os poderes do tempo e poder inverter a ordem dos fatos: só para ter a graça de te chamar de “minha filha”, “minha menina”, minha mãe que é “minha Tetê”!
Só para ter a graça de evitar os teus choros futuros, tuas dores constantes, teus medos tão delicados: medo de me perder, de que eu morra antes da hora, e de que não esteja por perto no momento em que eu precisar de tua mão como no passado, quando me conduzias com você, como se fôssemos uma só, um nó de gente, amarrado e costurado no amor que sobra no teu peito!
Esse amor que Deus esqueceu no mundo e eu vi de perto, refletindo nos teus olhos quando a vida nos apresentava motivos para perder as esperanças!
Minha mãe, que saudade eu sinto de nós duas juntas!
E hoje essa saudade já acordou exacerbada, pedindo a Deus que possamos logo comemorar seu aniversário, ainda que seja com atraso, mas com muito amor e alegria porque é isso que sobra na gente!