eu não entendo uma máquina de it bags

Outro dia tava fazendo a minha habitual ronda em busca de inutilidades pela ~internê~ quando achei a seguinte imagem:

maquinabolsas1

Trata-se de uma vending machine (ou em bom português: maquineta de vendas) recheada de it bags. Essa imagem foi veiculada no instagram da Interview Magazine. Nessa foto, reconheço, entre outros, alguns modelos da Dior, Fendi,  Hermès. Essa imagem me incomodou na mesma hora, e eu percebi que não conseguia entender o sentido por trás disso.

E eu explico o porquê: uma it bag não é uma it bag só porque é bonita ou porque é de uma grife conhecida e reconhecida internacionalmente. Uma it bag envolve um conceito de compra de luxo que, definitivamente, não é traduzido pela vending machine.

Eu adoro a praticidade das vending machines, e acho incrível que estejamos chegando a uma era em que podemos comprar muito mais do que comidinhas e bebidas em máquinas desse tipo. Me lembro com perfeição da primeira vez que vi uma máquina da Best Buy em um aeroporto nos EUA, e como achei a ideia de compra on-the-go de eletrônicos revolucionária. Isso deve fazer uns 3 anos. De lá pra cá, a Benefit Cosmetics, marca queridinha de cosméticos (eu, pelo menos, amo) também instalou vending machines recheadas dos seus produtos de beleza nos aeroportos.

Best Buy Express

Mas uma máquina de vendas de it bags me incomoda e muito. Veja bem, uma vending machine do Best Buy no aeroporto é muito conveniente: uma máquina desse tipo pode resolver problemas de pessoas que esquecem o carregador de smartphone/tablet, ou precisam de um adaptador universal de tomadas, ou esquecem o fone de ouvido, ou o fone de ouvido estragou no meio da espera da conexão (já aconteceu comigo), ou quem simplesmente quer arrematar um iPod shuffle nos últimos minutos de solo americano.

Do mesmo modo, uma máquina que vende itens de beleza no aeroporto pode ser um verdadeiro salva vidas. Quem nunca chegou no destino de uma viagem com uma cara tão esquisita que parece que tinha levado um susto que atire a primeira pedra. Eu tive que aprender muito nessa vida pra levar um ~kit de sobrevivência~ bem editado na bolsa, com itens que podem salvar a aparência depois de longas horas de vôo sem pesar muito a bagagem de mão. Não preciso nem dizer o quanto me faz feliz a ideia de, numa conexão, já comprar, entre outros, o meu primer favorito e o meu corretivo adorado numa maquininha fofa dessas.

A ideia de comprar uma it bag em uma máquina não me convence nem um pouco. Pelo menos por enquanto. Pode ser que, um dia, eu morda a minha língua, e o único jeito de comprar qualquer coisa seja em máquinas desse tipo. Mas, enquanto houver opção, eu prefiro a experiência da compra.

Eu me lembro direitinho da minha primeira it bag, que foi um presente da minha vó há mais de uma década. A Victor Hugo estava no auge aqui no Brasil, e o meu sonho de consumo era uma mochilinha da marca. O modelo icônico que despertava o desejo de uma menina de 10 anos era esse aqui:

o mesmo modelo que mora até hoje no meu armário

Em uma determinada tarde do ano 2000, a minha vó me levou no shopping e me disse que ia me dar de presente a bolsa que eu queria. Eu fiquei super emocionada, achei aquilo o máximo! Entrar na loja com ela, ver a decoração, obervar os diversos modelos expostos, ter um atendimento mega personalizado, ver todas as muitas possibilidades; tudo isso fazia parte de uma experiência de compra luxuosa. Naquele dia, eu ganhei a minha primeira it bag, que uso e guardo até hoje, junto das outras duas bolsas que a minha vó comprou naquele dia (uma pra ela e outra pra minha mãe).

A experiência se repetiu anos depois, em 2010, quando tive coragem suficiente de investir o meu próprio dinheiro em uma Louis Vuitton, aproveitando uma viagem aos EUA. Aos 20 anos, eu já entendia muito mais o conceito de uma compra de luxo do que quando eu tinha 10 anos e ganhei aquela mochila da Victor Hugo. A experiência de compra em torno de uma bolsa grifada é, realmente, diferente de qualquer outra experiência de compra. Naquela ocasião da compra na Louis Vuitton, eu testei diferentes tamanhos da Speedy, um dos modelos mais clássicos da marca, escolhendo com cuidado não só o tamanho mas também qual tipo de monograma eu preferia.

De lá pra cá, investi em outros modelos de bolsas grifadas, levando sempre em consideração a experiência de compra. Depois de decidir que quero investir em um modelo novo, eu passo meses estudando as opções que eu quero e observando as que cabem no meu orçamento; gasto mais um tempão pesquisando a história dos modelos e das marcas; quando já tô na loja, fico mais um bom tempo pesando a decisão. Eu acho que nunca vou esquecer – ou me cansar – da sensação de experimentar bolsas diferentes, em seus diferentes tamanhos, modelos, formas. Quando compro uma bolsa assim, eu considero um verdadeiro investimento, uma peça que eu usarei a vida inteira e que sempre será especial pra mim – e eu não me vejo investindo em uma peça que saia de uma máquina como se fosse um chocolate ou um pacote de biscoitos.

como eu me sinto quando compro um artigo de luxo

É por isso que eu não entendo e não consigo entender essa máquina recheada de it bags. Uma compra em uma máquina desse tipo descaracteriza completamente a experiência da compra de luxo. Eu imagino que, caso chegue o dia em que eu possa comprar uma bolsa da Hermès, por exemplo, eu nunca seria capaz de comprar uma Constance (modelo que chega a custar US$9 mil) através de uma máquina. É algo inconcebível pra mim. Ok, por enquanto é inconcebível que eu gaste essa quantia em uma bolsa, mas eu acredito num futuro melhor, e sonhar não custa nada. E eu sonho com o dia em que eu vou poder ter a experiência de comprar uma Hermès em uma das suas flagships maravilhosas, com tudo o que eu terei direito.

Carrie Bradshaw ❤

É por isso, também, que eu não entendo a compra de réplicas de marcas luxuosas. Do mesmo modo que as maquinetas, não faz o menor sentido pra mim. Eu acho preferível gastar o dinheiro em uma bolsa bacana de marcas como Schutz, Arezzo, Santa Lolla, e tantas outras, do que usar a mesma quantia pra comprar uma réplica. E ainda dá pra parcelar, gente. Uma vez eu li em algum lugar que, muito pior do que usar uma bolsa falsificada, é tentar ser uma imitação de você mesma.

réplicas

Pra mim, com a compra de uma bolsa de luxo, vem a história da marca junto. É como se eu agregasse valor trouxesse aquela história pro meu armário junto daquela bolsa sonhada, batalhada, planejada e, enfim, comprada. Todas as vezes foi assim, e eu quero que seja sempre assim. Pra mim, comprar uma bolsa de luxo não é a mesma coisa que comprar um Doritos.

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