apenas mais 01 história

era uma vez uma mocinha que não esperava mais amar ninguém como já tinha amado antes aquele ex-namorado que não conseguia esquecer de forma alguma. era um mês de outubro, há alguns anos atrás, e ela estava organizando um evento com seus amigos. ainda era o segundo dia do evento, e ela já carregava olheiras que denunciavam as noites mal dormidas e as muitas preocupações em conciliar todas as atividades com a atenção devida que deveria dar aos seus amigos.

e eis que a mocinha da nossa história, de repente, entra na sala onde sabia que encontraria uma pessoa que já tinha conhecido mais cedo naquele dia, e uma outra, que jamais tinha visto; mal sabia ela que, ao abrir aquela porta, sua vida jamais seria a mesma. porque, as vezes, as coisas acontecem assim: com um simples movimento, como ir a um restaurante, ao cinema, ao teatro, a uma loja, a uma praia, ou, neste caso, entrar numa sala, tudo pode mudar; e mudou, porque ela viu ali aquele que seria o dono do seu coração por um longo tempo.

o primeiro passo era descobrir o nome dele; fácil. depois, descobriu o que estudava e onde estudava. mais tarde, descobriu que tinha namorada, e que por ela era apaixonado, devotado, encantado. a mocinha da nossa história sentiu, então, um aperto em seu coração; e mal sabia ela que era só o primeiro de muitos que sentiria por conta desse rapaz. a mocinha, conhecida pelos seus hábitos certinhos e bastante ortodoxos, jamais tentaria qualquer manobra enquanto o objeto de desejo do seu coração fosse comprometido; ficava quieta, observava, esperava.

naqueles dias, os seguintes à primeira vez que se viram, a mocinha e o rapaz conversaram, descobriram que tinham coisas em comum, outras nem tanto, mas que, de fato, se davam bem. e se davam tão bem que era notório, e uma amizade logo se formou ali.

ao final do evento, como os outros amigos de fora do estado que a mocinha morava, o rapaz voltou para sua casa, e eles ficaram sem muito contato nos meses seguintes – em parte, porque a mocinha não queria cair mais e mais nesse poço sem fundo; em parte, bem, em parte porque a vida se encarrega de tomar conta do coração da gente.

já no outro ano, os muitos amigos que tinham se encontrado naquele outro feriado se reuniram novamente; dessa vez, em outra cidade, diferente da primeira. ao encontrar o rapaz, este protagonista da nossa história, a mocinha tremeu, estremeceu, ficou com a boca seca, o coração batendo rápido; ela não sabia se portar de maneira adequada estando perto dele. evitava, portanto. mas, numa festa, depois de algumas cervejas, danças, brincadeiras, e mais cervejas, o rapaz confessa que, se não tivesse namorada… ah, se não tivesse namorada… mas, bem, a mocinha, muito certinha, o corta antes mesmo de terminar a frase, amparada pelo amigo que já entendia tudo o que poderia acontecer se faltasse um pouco mais de juízo aos dois. ao final desse feriado, despediram-se, e cada um voltou pra sua cidade.

a verdade é que, enquanto o rapaz namorava, a mocinha tentava preencher seu coração com outros rapazes – menos especiais do que ele, mas, ainda assim, de alguma forma especiais. ela tentava, de todas as formas, esquecer aquele que tanto queria, porque algo lhe dizia que ou jamais terminaria aquele namoro, ou alguma coisa não daria certo entre os dois, que tanto combinavam, mas que eram tão racionais.

outros meses se passaram, o pouco contato era a maior verdade, mas aí a mocinha foi pra cidade do rapaz, junto com seus amigos de outras cidades, pra outro feriado juntos, num evento similar àquele que dera início a tudo. o rapaz conversava com a mocinha sempre que era possível, e ela com ele, e os dois seguiam combinando, e ela ajudava ele no que era preciso, mas jamais ultrapassando os limites que aquele namoro fantasmagórico impunha àquela história. a mocinha acabou beijando um outro rapaz naquele feriado, um outro amigo, uma pessoa por quem também tem muito carinho, mas que de forma alguma poderia representar algo tão significativo quanto o rapaz que protagoniza esta história.

separados mais uma vez pelo fim de um evento, a mocinha voltou pra casa, o seu caso com o outro amigo encerrava-se, e seu coração continuava a bater mais forte quando o nome do rapaz que protagoniza esta história era mencionado, ou aparecia nas redes sociais, ou qualquer coisa do gênero.

meses se passaram.

mudou o ano.

outros meses se passaram.

e aí, um belo dia, a mocinha recebeu um email; um email, não, um pedido via email. um pedido para que acompanhasse o rapaz num evento como aquele que tinha sido a mola mestra disso tudo. o rapaz queria a mocinha como sua dupla. e a mocinha, logicamente, aceitou.

a mocinha viajou pro Médio Oriente, e mesmo de lá, em pleno Carnaval (pros que estavam em terras brasilis, pelo menos), trocava emails com o rapaz. combinavam, articulavam; seria glorioso!, diziam.

encontraram-se, então, um pouco mais de um mês depois de tudo estar combinado, quando já era quase hora de atuarem como uma dupla; como a dupla dinâmica e homogênea que sempre deveriam ter sido. nesse meio tempo, o rapaz tinha contado à mocinha que estava, enfim, solteiro. naturalmente, a mocinha ficara eufórica – seria, enfim, sua chance, a chance que tanto esperava ter para ao menos saber qual o gosto teria o beijo daquele rapaz? e, de fato, foi. logo no segundo dia que se encontraram, do que seria o início de uma semana inesquecível, os dois se beijaram. ah, como foi bom! ambos confessavam não acreditar aquilo ser finalmente possível; suas bocas pareciam ter sido moldadas uma para a outra. por uma semana, seus corpos se movimentavam como planeta e satélite, ora segundo as coordenadas dela, ora segundo as coordenadas dele. beijaram-se em cidades diferentes, conversaram em cidades diferentes; beijaram-se muito, muito, muito; descobriram como fazer de cada beijo uma novidade, e aproveitavam isso.

depois de uma semana de muitos te quiero mucho, confissões, verdades, beijos, abraços… despediram-se. a mocinha deixou a cidade antes dele, e deixou a bucólica pracinha com lágrimas nos olhos, porque tinha a certeza de que nada seria como antes, nem como então.

a mocinha, em casa, não sabia o que fazer; queria de novo tudo aquilo, queria sentir aquela emoção outra vez, aquela emoção de enfim ter o rapaz com quem tanto sonhava abraçando-a, beijando-a, dizendo que a queria.

ah, como ela tinha gostado disso.

num impulso, a mocinha decidiu que iria visitar os amigos na cidade em que o rapaz, o nosso protagonista, morava. e foi.

usou uma desculpa, logo desfeita, e foi.

foi atrás do que queria. foi dizer o que pensava.

ganhou um beijo, meio forçado, meio incômodo, dentro do carro do rapaz, aos 45 do segundo tempo. e a mocinha viu que tinha feito besteira.

a verdade é que, mesmo depois de tanto tempo, mesmo depois de quebrar tanto a cara, a mocinha ainda não aprendera a ficar quieta; ela ainda não tinha aprendido que deveria guardar seus sentimentos pra si mesma, ao invés de sair por aí, proclamando aos quatro ventos de quem gostava ou deixava de gostar.

depois dessa viagem, depois da cena ridícula protagonizada pela mocinha no avião em que voltava, enquanto ainda chorava, sentada naquela poltrona, olhando as nuvens da sua janela, a mocinha decidira que esqueceria o rapaz. sabia que tinha feito besteira. tinha certeza de que tinha arruinado tudo. tomara uma decisão, e que seria definitiva (ou, pelo menos, era isso que ela repetia pra si mesma, infinitas vezes).

a mocinha, então, parou de mandar mensagens, de olhar as redes sociais, de tentar contato. viajou; e, como gosta de dizer, se curou na primeira montanha russa que andou. a mocinha encontrou as forças que precisava pra voltar, e sabia que teria que ser forte na despedida de um amigo em comum que se aproximava, onde o encontro seria inevitável.

naturalmente, nossa mocinha preferiria jamais ter visto nosso protagonista outra vez. tudo seria mais fácil. óbvio.

mas, a primeira pessoa que viu ao chegar na cidade em que se daria a despedida, foi, naturalmente, o rapaz, este que protagoniza nossa história. a mocinha, primeiro, ficou abalada – primeiro, não, o tempo todo abalada -, mas posava de forte, tentava não ceder. a mocinha agiu como deveria por 24 horas, mas, depois de alguns bons drinks e umas três ou cinco tentativas do nosso protagonista, acabou cedendo, e acabou beijando aquele que tanto queria arrancar do seu coração.

e, outra vez, nossa mocinha se sentia como se nada mais importasse nesse mundo, como se aquele fosse o melhor momento da sua vida, como se aquele beijo fosse o melhor beijo do mundo, como se aquele momento jamais fosse acabar.

mas acabou.

a mocinha voltou pra casa, e teve pouco contato com o rapaz que protagoniza nossa história num período de 2 ou 3 meses. mas aí o rapaz viria para a cidade dela, ficaria hospedado na cidade dela, passaria 5 dias na cidade dela.

a mocinha começou a se preparar psicologicamente para um encontro que certamente não teria beijos, abraços, ou muitas cortesias.

o problema todo é que, como a gente sabe, o coração tem sua própria razão, e não adianta preparar-se psicologicamente por meses ou anos, porque ele, o coração rebelde, sempre vai bater mais forte quando ele bem entender.

e foi só a mocinha ver o rapaz outra vez que as suas defesas desmoronaram, e ela já não sabia mais o que fazer.

agia o mais normalmente que podia, mas sabia que não era o suficiente. ao menos, tentava.

conversava com os amigos, tentava acalmar seu coração. desejava que outros seus melhores amigos também estivessem por perto; mandava mensagens pra eles, pedindo apoio, pedindo socorro.

só que tem outra coisa que a gente sabe muito bem: não há forma de fazer alguém gostar mais de outro alguém do que ver aquele alguém com aquele molejo de amor machucado, aquela tristeza, aquela dor que só sente quem já amou, e amou muito.

e o rapaz, protagonista da nossa história, estava assim, revelando seu amor machucado, triste, doído, que tanto lhe fazia falta. e essa mocinha, mais do que ninguém, compreenderia aquela dor, pois convive com ela há tantos cinco anos.

a mocinha tentava, de alguma forma, consolar o rapaz, sem sinais de que queria algo além do que oferecer seu carinho e ombro amigo – afinal, eram amigos – mas o rapaz a evitava. e isso machucou a mocinha. e machucou tanto, e tanto, que ela passou a não querer ficar tanto por perto, também. e isso provavelmente foi a atitude mais certa e mais errada que tomara o feriado inteiro.

a mocinha chorava.

a mocinha chorou.

ao final do feriado, a mocinha chorou, chorou muito, chorou demais, de alívio, de dor, de tudo junto. os olhos inchados, a voz embargada, não conseguia nem falar, nem comer, nem nada. parecia que uma faca gelada tinha atravessado seu estômago, e que aquela ferida que tinha no coração jamais cicatrizaria.

a mocinha, então, tomada pela emoção, tomou outra burra decisão. tomada pela emoção de uma boa notícia – boa não, excelente – que recebera, decidira fazer uma desintoxicação da sua vida; cortaria refrigerante, faria exercícios, e, definitivamente, queria resolver, de uma vez por todas, essa história que tanto lhe fazia mal, e que tanto queria continuar vivendo, e que tanto lhe custava.

a decisão burra, pouco condizente com todas as atitudes sempre racionais e certinhas que tomava, foi questionar o rapaz, o nosso protagonista, este rapaz que, como a mocinha da nossa história, ama azeitonas, dispensa as bordas das pizzas, e cultiva com carinho problemas de estômago, o porquê de tão mal tratamento durante aquele feriado pouco distante.

e, ainda sem resposta, a mocinha aguarda. como ela disse, I’ll be waiting, ela continuará esperando.

a mocinha sabe que a resposta talvez nunca chegue. a mocinha sabe que a resposta pode chegar, e chegar ferindo ainda mais esse coração machucado. a mocinha sabe que nada do que gostaria que acontecesse de fato acontecerá. a mocinha sabe que deveria ter aprendido, ter ficado com a boca fechada, ou com os dedos menos impacientes, e não ter enviado aquela mensagem, tão bem redigida, mas ao mesmo tempo tão inapropriada.

a mocinha sabe o risco que corre.

e, mesmo assim, a mocinha prefere correr o risco. a mocinha da nossa história sabe que, de fato, é melhor ter uma faca enfiada e torcida no seu estômago do que continuar querendo tanto que o rapaz, nosso protagonista, diga que gosta tanto dela, e que gosta tanto de beijá-la.

a mocinha da nossa história continua olhando as fotos que não devia; continua querendo os beijos que não deveria querer; continua imaginando como seria maravilhosa a vida caso sobrasse emoção entre os dois, e eles se dessem a chance de curtir um ao outro, na boa, sem chorar, enquanto o tempo permitisse.

a mocinha está quase ficando sem paciência. paciência é uma virtude. mas é que ela acha muito difícil esperar.

a verdade é que a mocinha sente que está esperando pela chuva no meio de uma seca, e sabe que, ainda que a chuva caia, pode causar-lhe mais malefícios do que, de fato, apaziguar a sede e o calor.

a mocinha quer resolver logo essa história. a mocinha da nossa história quer virar essa página, quer seguir em frente, quer ver-se livre desse fantasma que a assombra.

mas a mocinha não consegue.

porque o rapaz, este protagonista da nossa história, é o primeiro e o último pensamento de todos os dias dessa mocinha desde que eles se conheceram, e ela já não sabe mais como tirá-lo da cabeça.

talvez muitas viagens, champanhes, filmes, livros… talvez, só talvez, algum dia, alguma coisa consiga preencher esse vazio que fica cada vez que ela se lembra da certeza do fim de uma história que não teve começo nem final.

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