40 dias sem sair de casa

Quando eu era criança, eu lembro que o número 40 me impressionava na liturgia. Pensava nos 40 dias e 40 noites que Jesus passou no deserto. Achava a Quaresma, os 40 dias que separam a Quarta-Feira de Cinzas da Semana Santa, um período longuíssimo. E hoje eu completo 40 dias sem sair de casa – coincidentemente, hoje é Sexta-feira Santa.

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tirei essa foto no 38º dia em casa, mas a frase estampada na blusa (by Coletivo Lírico) se torna mais importante a cada dia dessa quarentena.

Quando estávamos Armênia, fiz uma viagem sozinha pro Brasil de 40 dias. Naqueles 40 dias, senti saudade do marido. Naqueles 40 dias, fui a vários médicos, fiz vários exames, visitei minha sogra e minha cunhada em SP, visitei meus tios no interior do RJ. Nos últimos 40 dias, os visitei pela internet.

Eu não estaria sendo sincera se dissesse que estes últimos 40 dias foram fáceis. A tristeza de ver as consequências de uma pandemia e a sensação de impotência diante de tudo o que está acontecendo são potencializadas por ser uma pessoa ansiosa. Tenho dias melhores, e tenho dias piores. Mas, há cerca de 2 semanas, meu coração tem ficado mais tranquilo, os picos de ansiedade tem sido menores, e eu tenho conseguido lidar melhor com as oscilações inevitáveis deste período de confinamento. Coincidentemente ou não, há duas semanas o Papa Francisco deu a benção urbi et orbi, após 1 hora de oração transmitida ao vivo para o mundo inteiro, com uma Praça São Pedro vazia, debaixo de chuva.

A minha fé tem sido um baluarte importante neste período. É a minha fé que me mantém com os pés no chão, e também com a certeza de que tudo isso vai passar. É a minha fé que me dá esperança de que o mundo não vai “voltar ao normal”, mas que caminharemos em direção a um mundo mais humano, mais solidário, mais irmão.

Além das minhas orações diárias, outra coisa que tem me ajudado bastante no controle da ansiedade é fazer exercícios físicos (quase) diariamente. Durante 1 hora, eu mexo meu corpo, seja dançando, fazendo alongamentos ou algum exercício funcional de que eu me lembro.

Manter-me ocupada também é fundamental. Até 31/03, estava muito atarefada escrevendo uma versão do projeto de tese. Ontem tive o último de 2 seminários sobre filosofia (em alemão!) com 4 horas de duração cada, ministrados online. Continuo tendo minhas aulas de alemão online 2x na semana. E já estou inscrita para mais um seminário, também online, com 2 dias de duração na metade de maio. As atividades acadêmicas não param e preenchem meu tempo, até demais.

Foi só nos últimos dias que consegui me dar umas horinhas de folga durante a semana – coisa necessária em tempos tão difíceis. Assisti Harry Potter, e também comecei a ver algumas séries do Disney+ que muito me interessam. Me transportar um pouquinho para meus universos mágicos favoritos também colaboram para manter minha sanidade.

Hoje é meu 40º dia sem sair de casa e, sinceramente, não sei quantos dias mais passarei entre essas paredes, sem poder sair por ser parte de um dos grupos de risco. Reconheço que sou privilegiada por morarmos num apartamento bom, que nos permite circular e não surtar, com janelas que possibilitam a entrada do sol e que vejamos o céu azul (aliás, nunca antes na história desse país fez tantos dias de sol e céu azul), com um home office bem estruturado pra dar continuidade as minhas atividades acadêmicas e todas as responsabilidades do marido.

O governo da Suíça já anunciou uma prorrogação da quarentena até (pelo menos) 26 de abril. A Universidade suspendeu todas as atividades presenciais deste semestre. Especula-se que, em junho, a situação comece a normalizar. Enquanto isso, eu fico em casa.

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