Eu sei que eu tô devendo mais posts contando da vida aqui em Jerusalém, e também das férias, e tantos outros assuntos, mas hoje eu quero registrar aqui a emoção que senti em poder participar da festa da democracia – ainda que seja votando “só” pra presidente.
Vocês já sabem, mas não custa lembrar: eu dedico 90% da minha vida ao estudo da política. Desde os meus 16 anos, eu respiro política externa brasileira. A política externa é apenas uma das muitas esferas que compõem a política, mas a política como um todo impacta na política externa, que é uma política pública e resulta de decisões políticas. Fica esquisito repetir tanto a palavra “política” num só parágrafo, mas é que, em português, ela define o campo e a atividade. Por isso, é inevitável repeti-la. Viver é político.
E, mesmo quando dedico os outros 10% da minha vida ao exercício da consultoria de imagem e estilo, eu também trato de política. Porque moda é política. As nossas roupas comunicam, e são resultados de movimentos políticos, sociais e antropológicos. Hoje fui votar de calça, e o fato de que nós, mulheres, podemos hoje usar calças deve-se à luta de tantas outras que vieram antes de nós, e que foram presas por desafiarem as leis que proibiam o uso feminino de calças em público.

Hoje fui votar lá em Ramallah e me deu um arrepio tão grande quando apertei CONFIRMA que os olhos encheram de lágrimas. Desde que me entendo por gente, a desigualdade sempre me machucou; sempre me doeu fisicamente ver gente passando fome, sem casa pra morar, sem trabalho, sem dignidade pra viver. Hoje eu votei por mim, mas votei principalmente por todos aqueles que não tem os mesmos privilégios que eu tenho. Só vou saber o resultado desse primeiro turno ao acordar amanhã (se é que vou conseguir dormir), mas hoje eu sou só esperança de dias melhores.